terça-feira, 11 de novembro de 2014

Mitos e Lendas - O tecelão das nuvens

Há muito tempo atrás, na terra do sol nascente, Sei, um jovem agricultor estava preparando suas terras para o plantio.
Sozinho no mundo e muito triste, pois a mãe, que era tecelã, havia falecido recentemente e não havia ninguém para ajudá-lo nessa tarefa.
Eis que estava ele semeando e, de repente, viu uma cobra rastejando no chão.
Sei percebeu que a cobra deslizou firmemente em direcção a uma moita de crisântemos, onde havia uma aranha suspensa por um fio de seda da teia. A aranha fez Sei lembrar da mãe - pequena e indefesa - e imediatamente levou a cobra para bem longe com seu ancinho.
A aranha, surpresa com a bondade de Sei, olhou para ele. Sei nunca percebeu, pois além da aranha ser pequena, ele havia retornado ao trabalho.
Passado alguns dias, uma jovem bateu à sua porta. ela se curvou e perguntou se ele precisaria de alguém para tecer.


Sei ficou surpreso, pois ele realmente precisava, mas não havia comentado com ninguém desde a morte de sua mãe e perguntou à jovem:
- Como você sabe que preciso de alguém?
Timidamente, a jovem respondeu:
- Eu sei. Ficarei feliz se puder ajudar.
Muito feliz e grato, Sei levou a jovem ao quarto de tecelagem de sua mãe. Enquanto a jovem trabalhava tecendo, Sei continuou seu trabalho no campo.
À noite, Sei voltou pra casa, bateu na porta do quarto de tecelagem e, já pensando que ninguém poderia ser comparado à sua mãe, perguntou:
- Terminou alguma obra?
A jovem abriu a porta e, para sua surpresa, segurava em cada braço, uma dúzia de belas peças de tecido, suficiente para um quimono.
- Impossível, como pode fazer tantos? perguntou Sei.
A jovem apenas respondeu:
- Prometa que não vai mais fazer essa pergunta, nem entrar no quarto enquanto eu estiver trabalhando.
- Eu prometo - respondeu Sei.
Dia após dia, Sei descobria que a jovem havia tecido peças cada vez mais bonitas e delicadas.
Até que um dia, Sei implorou à jovem:
- Por favor, diga como você consegue fazer tantas e tão belas peças.
Ela apenas respondeu:
- Lembre-se de sua promessa.
Após algumas semanas, a curiosidade o venceu. Em uma tarde, em direção à sua casa, Sei viu a janela do quarto de tecelagem aberta e pensou que não estaria quebrando a promessa, caso espiasse.
Silenciosamente e na ponta dos pés, olhou pela janela.
Sei quase desmaiou.


Diante do tear não havia nenhuma jovem, mas uma enorme aranha com oito pernas. Sei não acreditava, olhou de novo.
Lembrou-se da pequena aranha que tinha ajudado e entendeu que esta era a sua recompensa.
Sei não sabia como expressar sua gratidão, ao mesmo tempo não queria que soubesse que tinha quebrado a promessa.
Sei percebeu ali, que a aranha precisava de mais algodão.
No dia seguinte, antes do amanhecer, Sei partiu para uma aldeia distante em busca de algodão.
Comprou e colocou o pacote em suas costas.
Cansado do peso e, depois de muito tempo, quando chegou ao topo, parou e sentou-se em uma pedra para descansar. Sei cochilou e não percebeu a mesma cobra que ele havia expulsado algumas semanas atrás.
A cobra o viu e não perdeu a chance. Entrou no pacote de algodão que Sei trazia.
Chegando em casa, Sei entregou o pacote à jovem. Ela se curvou agradecendo, sorriu e voltou para o quarto de tecelagem.
No quarto, a jovem se transformou na aranha. A aranha começou a consumir o algodão, engolindo o mais rápido possível para que pudesse girar em fio de prata.
Quando chegou ao final do pacote, inesperadamente, a cobra apareceu abrindo a boca.
Aterrorizada, a aranha saltou pela janela. Mas a cobra a alcançou.
Quando estava prestes a engoli-la, um raio de sol que atingia o punhado de algodão que saía pela boca da aranha, levantou-a e puxou para o céu.

Para mostrar sua gratidão, a aranha usou todo o algodão que tinha engolido, não mais para tecer pano, mas para tecer flocos de nuvens no céu.

Por isso, em japonês, a palavra "kumo" significa nuvem e aranha.

in: http://sempremeiotermo.blogspot.com.br/2014/02/03-o-tecelao-de-nuvens.html

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Mitos e Lendas - as parcas

O espírito greco-romano procurava explicar os fatos que se desenrolavam em seu mundo, lançando mão de uma fértil imaginação. Tudo aquilo que não podia entender julgava ser obra divina e criou uma religião fantasista, tendo chegado a dramatizar uma numerosa família de deuses.

Os gregos e romanos povoaram o mundo com uma variedade de divindades correspondentes a todos os espectáculos belos e terríveis do mundo e a todos os poderes e processos da natureza. Em sua imaginação prodigiosa não existia estrela que brilhasse no céu, nuvem que obscurecesse a luz solar ou vento que ondulasse a folhagem que não tivesse um deus a presidir-lhes a acção.

As Parcas

Um fio de ouro (John Strudwick - 1885)

Na mitologia romana, para determinar o curso da vida humana havia três deusas, as Parcas que se chamavam Nona, Décima e Morta. Na mitologia grega elas eram as Moiras e tinham nomes de Cloto que significa fiar, Láquesis que é sortear e Átropos, não voltar. Elas decidiam sobre a vida e morte e nenhum outro deus, nem mesmo Júpiter (Zeus), podia contestar suas decisões. Para os romanos, as três irmãs determinavam o destino dos mortais, mas para os gregos elas regiam tanto a vida dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Eram também chamadas de Fates, daí o termo fatalidade.
Nona tecia o fio da vida até a nona lua que é a duração da gravidez humana. Nona tece o fio da vida tecendo os dias no útero materno.
Décima cuidava da extensão e caminho da vida. Representa o nascimento efectivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Puxa e enrola o fio tecido, calculando seu comprimento, enquanto gira o fuso e determina o nosso destino. Ela sorteia o nome dos que vão morrer e é a responsável pelo quinhão de atribuições que se ganha em vida.
Morta cortava o fio. É a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento. Ela determinava o momento da nossa partida.
Durante o trabalho, as parcas fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. Ao enrolar os fios da existência dos seres vivos neste instrumento, cada pessoa se encontrará na posição mais almejada, o alto da roda, ou em baixo, na parte menos desejada, simbolizando os momentos de boa ou má sorte de todos.

As Parcas, (Ai Don - 2008)

in: http://ninitelles.blogspot.pt/2012/02/mitos-e-lendas-as-parcas.html